China adverte mídia estrangeira sobre cobertura de incêndio em Hong Kong

O serviço de segurança da China advertiu a mídia estrangeira contra 'informações falsas' sobre o incêndio mais mortal de Hong Kong em 70 anos, que matou 159 pessoas, usando a lei de segurança de 2020 antes das eleições.

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Incêndio mais mortal de Hong Kong leva a repressão midiática

O serviço de segurança nacional da China em Hong Kong convocou e advertiu organizações de mídia estrangeiras contra a disseminação do que chama de 'informações falsas' sobre o incêndio devastador no Wang Fuk Court, que matou pelo menos 159 pessoas no mês passado. Esta é a primeira vez que a mídia estrangeira foi convocada em massa para críticas pelo serviço de segurança desde que Pequim implementou a lei de segurança nacional em 2020.

O Gabinete de Proteção da Segurança Nacional (OSNS) convocou jornalistas de veículos como The New York Times e Bloomberg, ameaçando consequências sob a lei de segurança nacional de Hong Kong de 2020 para reportagens que retratam negativamente a resposta de Pequim ao desastre. A Reuters relatou que a mídia internacional foi advertida a não conduzir uma 'campanha difamatória' contra a forma como as autoridades lidaram com o incêndio mais mortal em Hong Kong em setenta anos.

Pressão midiática sem precedentes

Segundo analistas de mídia, é extremamente raro que um grupo de mídia estrangeira seja especificamente convocado por sua cobertura de um único evento noticioso em Hong Kong. 'Isso representa uma escalada significativa no controle da mídia,' disse o especialista em mídia de Hong Kong, Dr. Li Wei. 'Anteriormente, as autoridades podiam emitir declarações ou realizar coletivas de imprensa, mas convocar jornalistas individualmente para adverti-los sobre reportagens específicas é um novo nível de intimidação.'

A reunião foi realizada com base na lei de segurança nacional de 2020, implementada após os protestos pró-democracia em massa, que concede amplos poderes ao governo para agir contra entidades estrangeiras. A lei estabelece quatro crimes específicos: secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras.

A tragédia do Wang Fuk Court

O incêndio no edifício residencial Wang Fuk Court, no distrito de Tai Po, em 26 de novembro de 2025, tornou-se o mais mortal em Hong Kong desde 1948. O fogo começou no Wang Cheong House (Bloco F) e espalhou-se rapidamente por sete dos oito edifícios do complexo, alimentado por espuma de poliestireno expandido inflamável que cobria janelas e redes de segurança da construção.

O complexo de apartamentos passava por grandes reparos na fachada com andaimes de bambu envoltos em redes de segurança. De acordo com a Channel News Asia, as autoridades acreditam que o incêndio foi agravado por redes que não atendiam aos padrões de retardamento de chamas e ordenaram a remoção das redes de todos os edifícios de Hong Kong em manutenção extensiva.

A polícia prendeu um total de 21 pessoas, incluindo líderes de empresas de construção sob suspeita de homicídio culposo e outros relacionados a alarmes de incêndio defeituosos. A tragédia causou luto público e apelos por responsabilização, com enlutados colocando centenas de buquês e bilhetes em um parque próximo para vítimas que variavam de 1 a 97 anos.

Tensões eleitorais e frustração pública

A advertência à mídia ocorre pouco antes das eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong, em 7 de dezembro de 2025. As autoridades prosseguem com a votação apesar da frustração pública generalizada tanto com o momento das eleições quanto com a abordagem do governo ao desastre do incêndio.

'A população está muito traumatizada,' observou um relatório da Reuters. 'Muitos residentes acreditam que as eleições deveriam ser adiadas dada a magnitude da tragédia.'

Segundo a Human Rights Watch, estas eleições prosseguirão sem nenhum candidato pró-democracia, expondo o controle total de Pequim sobre o sistema político do território. O governo chinês desmantelou sistematicamente as instituições democráticas de Hong Kong, revisando leis para garantir que apenas leais ao Partido Comunista possam participar.

A participação eleitoral é esperada baixa, continuando uma tendência que viu apenas 30,2% de participação nas eleições de 2021. Os eleitores registrados caíram pelo quarto ano consecutivo, para 4,13 milhões.

Detenções e repressão

Em desenvolvimentos relacionados, a polícia deteve um homem de 71 anos suspeito de postar 'informações incendiárias' nas redes sociais. Outro homem que iniciou uma petição online por uma investigação independente sobre o desastre também foi detido, embora a polícia não tenha confirmado sua prisão.

'Estas detenções mostram como as autoridades usam o aparato de segurança nacional para suprimir questionamentos legítimos sobre a responsabilização do governo,' disse a observadora de direitos humanos Maria Chen. 'Quando as pessoas nem sequer podem fazer petição por uma investigação independente sobre uma tragédia que matou 159 pessoas, isso mostra o quanto as liberdades em Hong Kong foram erodidas.'

O governo de Hong Kong também condenou o que descreve como 'ataques maliciosos' e 'notícias falsas' sobre o incêndio no Wang Fuk Court. Detenções recentes incluem um ex-membro do conselho distrital que compartilhou reportagens críticas no Facebook e um estudante que iniciou uma petição por uma investigação independente.

Reação internacional e implicações

A advertência à mídia atraiu atenção internacional para o crescente controle da China sobre a informação em Hong Kong. O U.S. News & World Report observou que as autoridades criticaram a cobertura da mídia estrangeira por ignorar fatos, distorcer esforços de socorro e perturbar as eleições.

A situação destaca os desafios mais amplos enfrentados por jornalistas estrangeiros na China, que relatam ver cada vez mais 'linhas vermelhas' em seu trabalho. Com a lei de segurança nacional fornecendo amplos poderes para restringir a fala e as atividades midiáticas, muitos estão preocupados com o futuro da liberdade de imprensa em Hong Kong.

Enquanto a cidade lamenta seu incêndio mais mortal em gerações e se prepara para eleições rigidamente controladas, a advertência à mídia estrangeira representa um próximo passo na consolidação do controle de Pequim sobre o cenário informativo e o discurso político de Hong Kong.

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