A China alerta cidadãos sobre riscos de 'escravidão' em minas de ouro na República Centro-Africana, enquanto a mineração chinesa em toda a África causa danos ambientais, alimenta redes criminosas e viola direitos humanos.
Embaixada Chinesa alerta para perigos extremos na mineração de ouro
A Embaixada da China na República Centro-Africana (RCA) emitiu um alerta sem precedentes aos seus cidadãos sobre os 'perigos extremos' que enfrentam no setor de mineração de ouro do país. Em um comunicado de novembro de 2025, a embaixada descreveu como cidadãos chineses correm o risco de se tornarem 'escravos de minas' por meio de trabalho forçado, sequestros e exploração por grupos armados e parceiros comerciais inescrupulosos.
'Cidadãos chineses na RCA enfrentam assassinatos, sequestros, fraudes e exploração por grupos armados e parceiros comerciais, com alguns sendo atraídos para atividades de mineração ilegal apenas para serem enganados ou deportados,' de acordo com um relatório do Mining Focus Africa. A embaixada alertou especificamente sobre 'acidentes de carro' e 'enforcamentos' encenados após disputas comerciais, bem como a prática de confiscar documentos de mineiros para efetivamente escravizá-los.
Zimbábue: Crescente resistência às atividades de mineração chinesas
A República Centro-Africana não está sozinha nas tensões em torno das atividades de mineração chinesas. No Zimbábue, a resistência pública às empresas de mineração chinesas, que estima-se controlam 90% da indústria de mineração do país, está crescendo. De acordo com o Centre for Natural Resource Governance (CNRG), sediado em Harare, as empresas de mineração chinesas extraíram US$ 2,79 bilhões em minerais apenas em 2023.
'A indignação pública entre os zimbabuanos aumentou constantemente nos últimos anos devido a alegações contra empresas de mineração chinesas por supostamente cometerem crimes graves - variando de assassinato, estupro e despejos forçados a poluição e perda de habitat - às vezes com poucas ou nenhuma consequência legal,' relata o Africa Defense Forum.
Ativistas ambientais descrevem a situação como particularmente grave. 'Muitas atividades de mineração estrangeiras, incluindo aquelas com capital chinês, ocorrem em ambientes sensíveis, contornam regulamentações, são insuficientemente transparentes e subornam funcionários para enfraquecer seu papel de supervisão,' explica o CNRG em suas descobertas de pesquisa.
África Ocidental: Danos ambientais e redes criminosas
O extenso relatório de 2025 do Atlantic Council sobre a mineração chinesa na África Ocidental pinta um quadro ainda mais amplo de problemas sistêmicos. De acordo com a pesquisa do think tank, as atividades de mineração chinesas - variando de empreendimentos comerciais em grande escala à mineração artesanal em pequena escala - são responsáveis por danos ambientais muito graves em toda a região.
'Em muitos países da África Ocidental, cidadãos chineses envolvidos em mineração artesanal ilegal colaboram com atores criminosos locais e transnacionais,' afirma o relatório do Atlantic Council. Os impactos ambientais incluem degradação do solo, destruição de ecossistemas, deslizamentos de terra, poluição, desmatamento, perda de biodiversidade, desertificação e agravamento das mudanças climáticas.
Comunidades locais relatam casos desproporcionais de câncer, infecções respiratórias, doenças transmitidas pela água, distúrbios reprodutivos, condições de pele, asma, abortos espontâneos e defeitos congênitos ligados à poluição da mineração. Trabalhadores são expostos a mercúrio, cianeto, arsênico e flúor perigosos sem o equipamento de proteção adequado.
Motivações econômicas e implicações regionais
O aumento das atividades de mineração chinesas em toda a África decorre da diminuição das oportunidades econômicas na própria China, levando trabalhadores a buscar emprego na África Subsaariana. Os preços crescentes do ouro e as compras apoiadas pelo Estado tornaram a mineração africana particularmente atraente. A República Centro-Africana, apesar de sua enorme riqueza mineral, incluindo ouro, diamantes e petróleo, sofre com supervisão fraca e aplicação deficiente da lei, tornando-se um ponto crítico para atividades de mineração ilegal.
De acordo com a Reuters, o governo chinês forneceu mais de US$ 26 milhões em empréstimos à RCA, criando dependências econômicas complexas. O alerta da embaixada, que pede a todos os cidadãos chineses que deixem a RCA imediatamente, especialmente áreas fora da capital Bangui, representa uma mudança significativa na abordagem de Pequim em relação à segurança dos cidadãos no exterior.
O relatório do Atlantic Council conclui que as redes criminosas transnacionais desestabilizam as áreas de mineração e minam a confiança tanto na governança local quanto nacional. 'A mineração ilegal também se tornou uma fonte de financiamento para grupos armados e terroristas, como o Boko Haram e bandidos no estado nigeriano de Zamfara,' observa o relatório, destacando as implicações de segurança das atividades de mineração não regulamentadas.
Enquanto os países africanos lutam para equilibrar o desenvolvimento econômico com a proteção ambiental e a justiça social, a presença da mineração chinesa continua a gerar desafios complexos que vão muito além de simples transações econômicas.
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