UE aprova reformas migratórias rigorosas com centros de retorno

Ministros da UE aprovaram reformas migratórias que incluem centros de retorno fora da UE, uma lista de países seguros e um mecanismo de solidariedade de 21.000 reinstalações ou 420 milhões de euros para 2026.

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Ministros da UE apoiam reformas migratórias abrangentes

Os ministros europeus do Interior aprovaram um pacote abrangente de reformas migratórias que representa o maior aperto na política de imigração europeia em anos. Durante uma reunião em Bruxelas em 8 de dezembro de 2025, os ministros concordaram com medidas controversas, incluindo a criação de 'centros de retorno' fora das fronteiras da UE, penalidades mais severas para migrantes que se recusam a partir e um novo mecanismo de solidariedade para partilhar responsabilidades entre os Estados-Membros.

O acordo surge num momento em que os governos da UE estão sob crescente pressão política para mostrar controlo sobre a migração, com partidos de extrema-direita a ganhar terreno em toda a Europa devido a preocupações públicas sobre imigração irregular. Apesar de uma queda de 20% nas entradas irregulares no primeiro semestre de 2025, segundo a Frontex, o tema permanece politicamente explosivo.

'Precisamos de acelerar para dar às pessoas a sensação de que temos controlo sobre o que está a acontecer,' disse o comissário da UE para a Migração, Magnus Brunner, que elogiou o acordo como prova de que 'a UE mostrou que pode cumprir.'

Componentes-chave do novo quadro

As reformas, que se baseiam no Pacto de Migração e Asilo da UE aprovado no ano passado e que entra em vigor em junho de 2026, incluem várias disposições inovadoras:

Centros de retorno fora das fronteiras da UE

Os ministros aprovaram o conceito de centros de processamento em países terceiros para onde podem ser enviados requerentes de asilo cujos pedidos foram recusados. Estes 'centros de retorno' funcionariam através de acordos bilaterais entre Estados-Membros da UE e países terceiros.

'Três em cada quatro migrantes irregulares que recebem uma decisão de retorno na UE permanecem aqui em vez de regressar a casa,' observou o ministro da Imigração dinamarquês, Rasmus Stoklund, que presidiu às conversações. 'Acredito que as novas regras podem melhorar significativamente estes números.'

Lista de países seguros e regras para países terceiros

A UE designou sete países como países de origem seguros em toda a União: Kosovo, Bangladesh, Colômbia, Egito, Índia, Marrocos e Tunísia. Os pedidos de asilo de cidadãos destes países serão processados de forma acelerada, partindo do pressuposto de que provavelmente serão recusados.

Além disso, os ministros concordaram em alterar o conceito de 'país terceiro seguro', eliminando o requisito de uma ligação direta entre o requerente de asilo e o país terceiro em questão. Um país é agora considerado seguro se respeitar as normas internacionais de direitos humanos e tiver um acordo com a UE.

Piscina de solidariedade para 2026

Talvez o elemento mais controverso seja o mecanismo de solidariedade, que obriga os Estados-Membros a aceitar migrantes reinstalados, contribuir financeiramente ou fornecer apoio operacional. Para 2026, os números foram fixados em 21.000 reinstalações ou 420 milhões de euros em contribuições financeiras.

Chipre, Grécia, Itália e Espanha foram identificados como países sob pressão migratória e beneficiarão das medidas de solidariedade. Vários outros países, incluindo Áustria, Bulgária, Croácia, República Checa, Estónia e Polónia, podem solicitar deduções nas suas contribuições devido às suas próprias situações migratórias significativas.

Controvérsia e críticas

As reformas foram duramente criticadas por organizações de direitos humanos e de defesa dos migrantes. Mais de 200 organizações já tinham criticado anteriormente os planos da Comissão Europeia.

'Em vez de investir em segurança, proteção e inclusão, a UE opta por políticas que colocarão mais pessoas em perigo e incerteza jurídica,' disse Silvia Carta da PICUM, uma ONG que ajuda migrantes indocumentados.

Olivia Sundberg Diez da Amnesty International descreveu as posições acordadas como 'desumanizadoras' e o conceito de centros de retorno como 'cruel e impraticável.'

Acordo Itália-Albânia como modelo

A aprovação dos centros de retorno surge num momento em que as controversas instalações de processamento offshore da Itália na Albânia enfrentam desafios contínuos. Ao abrigo de um acordo de 2023, a Itália criou centros em Shëngjin e Gjadër para processar pedidos de asilo, mas as instalações permaneceram amplamente vazias devido a desafios legais.

O ministro do Interior italiano, Matteo Piantedosi, saudou a decisão da UE e disse que os centros de acolhimento e deportação devem estar 'totalmente operacionais' até meados de 2026. 'É um acordo que valorizamos muito, e a Itália desempenhou um papel importante,' afirmou.

Posições nacionais divergentes

O acordo revelou profundas divisões dentro do bloco. A Hungria declarou que não implementaria o mecanismo de solidariedade e não aceitaria 'um único migrante', segundo um alto funcionário do governo. A Eslováquia também rejeitou o mecanismo de solidariedade obrigatório, referindo-se aos dezenas de milhares de refugiados ucranianos que acolheu.

O futuro governo checo anunciou planos para rejeitar totalmente o Pacto de Migração da UE e afirmou na sua declaração política preliminar: 'Introduziremos uma política de tolerância zero para a migração ilegal. Rejeitaremos o Pacto de Migração da UE e adotaremos uma nova lei sobre migração e asilo.'

O ministro do Interior alemão, Alexander Dobrindt, disse que a Alemanha não aceitaria requerentes de asilo adicionais nem forneceria ajuda financeira, enquanto a França questionou a legalidade e eficácia de algumas propostas.

Próximos passos e implementação

Os detalhes das novas regras serão agora finalizados em negociações com o Parlamento Europeu. Se aprovadas, representarão uma mudança fundamental na forma como a Europa gere a migração, dando prioridade ao retorno e ao processamento externo em vez dos procedimentos tradicionais de asilo dentro das fronteiras da UE.

As reformas surgem num momento em que a UE tenta abordar o que os funcionários da Comissão descrevem como uma 'crise de retorno' - em que apenas cerca de 20% das pessoas ordenadas a sair são efetivamente deportadas. Se estas medidas atingirão os seus objetivos declarados, respeitando as obrigações de direitos humanos, ainda está por ver, agora que a Europa entra numa nova era de gestão da migração.

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