Crescimento dos EUA impulsionado por gastos com cartão de crédito

O crescimento econômico americano de 4,3% no Q3 2025 foi impulsionado principalmente por gastos com cartão de crédito para compras, enquanto o crescimento holandês foi de 0,5%. A diferença real é menor devido aos métodos de medição, mas as famílias americanas gastaram mais sem crescimento de renda.

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A Ilusão do Crescimento: Como os Cartões de Crédito Impulsionam a Economia Americana

Os mais recentes números econômicos mostram um contraste marcante entre os Estados Unidos e a Holanda, com os EUA relatando um crescimento de 4,3% no terceiro trimestre de 2025 contra apenas 0,5% na Holanda. No entanto, o macroeconomista Edin Mujagic alerta que esses números de manchete escondem uma realidade mais profunda e preocupante sobre a natureza do crescimento econômico americano.

A Diferença de Medição

O número de crescimento americano de 4,3% é calculado de acordo com a metodologia dos EUA, que difere significativamente dos padrões europeus. 'Se esse número americano fosse relatado pelo método europeu, teríamos falado de um crescimento de 1,1 por cento,' explica Mujagic. Embora ainda seja o dobro do número holandês, esse ajuste mostra que a diferença real entre as duas economias é muito menor do que parece inicialmente.

A diferença surge de como o crescimento do PIB é medido entre os continentes. Os EUA normalmente relatam números de crescimento trimestral anualizados, enquanto países europeus como a Holanda usam comparações trimestre a trimestre que não são anualizadas.

Consumo Sem Crescimento de Renda

O que é mais alarmante nos números de crescimento dos EUA é sua fonte. Cerca de metade da expansão econômica veio do consumo das famílias, com os americanos gastando significativamente mais no Q3 de 2025. No entanto, esse aumento de gastos ocorreu sem um crescimento correspondente na renda disponível.

'O consumo das famílias americanas aumentou 3,5 por cento no terceiro trimestre. Isso é substancial, mas a renda disponível dessas mesmas famílias não aumentou,' observa Mujagic. Essa desconexão aponta para uma tendência preocupante: os americanos estão gastando mais enquanto seu poder de compra real estagna.

A Economia do Cartão de Crédito

Dois fatores principais explicam esse fenômeno. Primeiro, uma parte significativa dos americanos usou cartões de crédito para financiar seus gastos. De acordo com o Relatório de Dívida e Crédito das Famílias do Q3 2025 do Federal Reserve Bank de Nova York, os saldos de cartão de crédito aumentaram US$ 24 bilhões para US$ 1,23 trilhão durante esse período.

'Isso significa: você pode gastar, mas é uma dívida que você tem que pagar, e há taxas de juros muito altas envolvidas,' enfatiza Mujagic. Isso cria uma situação precária em que o crescimento econômico é alimentado pelo acúmulo de dívidas em vez da criação real de riqueza.

Em segundo lugar, um efeito riqueza dos mercados de ações em alta beneficiou um segmento relativamente pequeno da população. 'Eles não apenas se sentem mais ricos, eles realmente são, e eles gastam uma parte importante dessa riqueza extra,' diz Mujagic. Isso destaca uma crescente divisão econômica na América.

O Contraste Holandês: Cautela Acima do Consumo

Enquanto isso, a Holanda apresenta um quadro econômico diferente. Enquanto a renda disponível holandesa realmente aumentou 3,8% - mais do que as famílias americanas - os gastos do consumidor contribuíram quase nada para o crescimento econômico.

De acordo com o CBS, o crescimento de 0,5% foi impulsionado principalmente pelos gastos do governo e pelas exportações. 'Se o governo gera crescimento, isso é de curto prazo. Eles gastam mais do que arrecadam e isso cria um déficit orçamentário,' alerta Mujagic sobre a sustentabilidade dessa abordagem.

A cautela holandesa reflete uma incerteza econômica mais ampla. 'Acho que as pessoas estão preocupadas. Elas têm dinheiro para gastar, mas não sabem o que vai acontecer no próximo ano: um novo governo, qual política, como a situação econômica mundial se desenvolverá?' explica Mujagic.

Resiliência vs. Sustentabilidade

Apesar das preocupações com o crescimento impulsionado pela dívida, a economia americana continua mostrando uma resiliência notável. 'Trimestre após trimestre, a economia mostra que pode simplesmente continuar crescendo,' observa Mujagic. 'Você deve ver isso como um sinal muito claro de que a economia americana é extremamente resiliente.'

Essa resiliência é evidente em vários setores. O crescimento das exportações contribuiu significativamente para a expansão americana, com os EUA vendendo mais bens para o exterior do que importando. Isso ocorreu em parte devido a tarifas de importação que tornaram os produtos estrangeiros menos atraentes para os americanos, combinadas com um dólar mais fraco que tornou os bens americanos mais baratos internacionalmente.

No entanto, os investimentos empresariais mostraram crescimento mínimo, levantando questões sobre a saúde de longo prazo da economia. 'Os investimentos das empresas mostraram um pequeno sinal negativo, que mal merece ser mencionado,' observa Mujagic sobre os gastos moderados das empresas.

Olhando para a Frente: Dois Caminhos Econômicos Diferentes

As histórias econômicas contrastantes dos EUA e da Holanda revelam abordagens fundamentalmente diferentes para o crescimento. A expansão impulsionada pelo crédito da América cria atividade econômica imediata, mas levanta preocupações sobre a sustentabilidade da dívida das famílias. A abordagem mais cautelosa da Holanda prioriza a responsabilidade fiscal, mas pode limitar o potencial de crescimento de curto prazo.

Enquanto ambas as economias navegam por condições globais incertas, a questão-chave é qual modelo se mostrará mais sustentável a longo prazo. Por enquanto, os números sugerem que, embora a economia americana pareça mais forte no papel, seus fundamentos incluem dívidas significativas que podem apresentar desafios quando as taxas de juros permanecerem altas e as condições econômicas eventualmente mudarem.

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