Regulador russo atrasa WhatsApp e enfrenta processo judicial
As autoridades russas intensificaram sua campanha contra serviços de mensagens estrangeiros, com o regulador de telecomunicações Roskomnadzor implementando restrições técnicas que atrasam significativamente o uso do WhatsApp no país. As medidas, que afetam os usuários desde 23 de dezembro de 2025, representam o mais recente capítulo nos esforços contínuos da Rússia para controlar a comunicação digital e promover alternativas domésticas.
O WhatsApp apresentou uma queixa formal sobre as restrições, acusando as autoridades russas de 'privar mais de 100 milhões de russos de comunicação privada', segundo um porta-voz citado pela Reuters. A plataforma alertou que forçar os usuários a migrar para aplicativos menos seguros, impostos pelo governo, pode comprometer a segurança dos cidadãos.
Processo judicial e resistência dos usuários
Um grupo de 42 usuários do WhatsApp e do Telegram entrou com uma ação coletiva contra o Roskomnadzor e o Ministério do Desenvolvimento Digital, argumentando que as restrições violam os direitos constitucionais à liberdade de informação e ao sigilo das comunicações. O processo, apresentado ao Tribunal Distrital de Tagansky, em Moscou, contesta as restrições a chamadas de voz e vídeo que começaram em agosto de 2025.
'O WhatsApp está profundamente enraizado em todas as comunidades do país,' afirmou a empresa, destacando seu compromisso de lutar pelos direitos dos usuários. A ação judicial ocorre enquanto milhares de russos relatam interrupções e atrasos, com a maioria das reclamações vindo de Moscou, de acordo com sites russos de monitoramento de falhas.
Impulso para alternativa doméstica: MAX Messenger
As restrições coincidem com a promoção agressiva da Rússia do MAX, um aplicativo de mensagens apoiado pelo estado e desenvolvido pela VK (controlada pela estatal Gazprom). Lançado em março de 2025, o MAX atingiu mais de 18 milhões de contas registradas, mas enfrenta uma resistência pública significativa, apesar dos mandatos governamentais que exigem que o aplicativo venha pré-instalado em todos os dispositivos vendidos na Rússia a partir de 1º de setembro de 2025.
De acordo com The Moscow Times, o MAX pretende se tornar um 'super-app' que integra serviços governamentais, mas recebeu críticas sobre falhas de segurança e preocupações com a privacidade. Ao contrário da criptografia de ponta a ponta do WhatsApp, o MAX não usa proteção semelhante, o que pode permitir o acesso do servidor ao conteúdo das mensagens.
Campanha ampla de controle da internet
O Roskomnadzor, agência federal russa de supervisão de comunicações criada em 2008, restringiu sistematicamente plataformas estrangeiras desde a invasão da Ucrânia em 2022. Facebook, Instagram e Snapchat já estão bloqueados, enquanto o YouTube sofre graves perturbações. O regulador alega que essas medidas combatem fraudes e terrorismo, embora os críticos afirmem que representam censura digital.
'Isto é feito, naturalmente, para aumentar a segurança,' escreveu o governador da região de Belgorod, Vyacheslav Gladkov, sobre as restrições à internet em áreas de fronteira, reconhecendo que elas perturbam a infraestrutura de comunicação. Seu canal no Telegram, usado para alertas de crise sobre ataques de drones ucranianos, agora contém referências ao MAX, enquanto as autoridades pressionam pela migração para plataformas domésticas.
Uso de VPN dispara
À medida que as restrições aumentam, a adoção de VPNs entre os usuários de internet russos explodiu. O site de notícias independente Meduza relatou que mais de 90% de seus leitores usam VPNs, com a maioria optando por serviços pagos. Um quarto dos entrevistados identificou a proibição de chamadas no WhatsApp e no Telegram como seu maior incômodo.
As restrições técnicas funcionam diminuindo a velocidade de dados para o tráfego do WhatsApp, tornando o aplicativo frustrantemente lento, mas não completamente inacessível. Essa abordagem de 'limitação' representa um meio-termo entre o bloqueio total e o acesso irrestrito, permitindo que as autoridades pressionem os usuários enquanto mantêm alguma funcionalidade.
Implicações internacionais e perspectivas futuras
As restrições ao WhatsApp ocorrem em meio a tensões mais amplas entre a Rússia e as empresas de tecnologia ocidentais. O Roskomnadzor ameaçou bloqueio total se o WhatsApp não cumprir as leis russas sobre compartilhamento de dados com as autoridades. O regulador alega que a plataforma é usada para organizar atos terroristas e cometer fraudes, embora dados do banco central russo indiquem que as chamadas telefônicas tradicionais e as mensagens SMS permanecem os principais canais de fraude.
Enquanto a Rússia continua seu impulso por soberania digital, a batalha sobre plataformas de mensagens destaca tensões fundamentais entre o controle estatal e a liberdade digital. Com desafios legais e contornes técnicos, como VPNs, se multiplicando, as autoridades russas enfrentam uma batalha contínua para remodelar a paisagem digital do país, enquanto os cidadãos tentam manter o acesso a ferramentas de comunicação globais.