Crise política se aprofunda com exército apoiando manifestantes
Madagascar enfrenta a crise política mais grave em anos após o presidente Andry Rajoelina declarar que está em curso uma tentativa ilegal de tomada de poder. O alerta ocorre depois que soldados da unidade de elite CAPSAT se juntaram a milhares de manifestantes liderados por jovens na capital Antananarivo, criando uma situação instável que ameaça desestabilizar a nação insular no Oceano Índico.
Deserção militar agrava crise
A crise atingiu um ponto crítico quando as tropas do CAPSAT, que anteriormente ajudaram Rajoelina a chegar ao poder em um golpe em 2009, declararam publicamente seu apoio aos manifestantes. "Não podemos continuar a obedecer ordens que prejudicam nosso próprio povo," disse um soldado do CAPSAT a repórteres. "O exército deve proteger o povo, não oprimi-lo." A unidade anunciou que assumiu o controle de todas as tropas militares no país e pediu a outros soldados que ignorassem ordens presidenciais.
Veículos militares acompanharam manifestantes até a simbólica Praça 13 de Maio em Antananarivo, local que testemunhou inúmeras revoltas políticas na história de Madagascar. Quando a polícia viu o exército se juntando aos protestos, os agentes abandonaram suas posições na praça, efetivamente transferindo o controle para os manifestantes e seus novos aliados militares.
Origens dos protestos
A atual onda de protestos começou em 25 de setembro, inicialmente alimentada pela raiva generalizada sobre a escassez crônica de água e eletricidade que assola o país há meses. No entanto, as manifestações evoluíram rapidamente para um movimento mais amplo exigindo mudanças políticas. "Começamos a protestar porque não tínhamos água e eletricidade, mas agora percebemos que os problemas reais estão no próprio governo," disse a estudante Marie Rasoanaivo, de 24 anos.
Os protestos se inspiraram em movimentos semelhantes liderados por jovens em toda a África e Ásia. De acordo com análise recente, ativistas da Geração Z em países como Quênia, Nepal e Marrocos estão saindo às ruas para exigir melhor governança e oportunidades econômicas.
Custos humanos e reação internacional
As Nações Unidas relatam que desde o início dos protestos pelo menos 22 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas, embora o governo insista que o número de mortos é de apenas 12. A violência levou o presidente Rajoelina a dissolver parte de seu governo no início deste mês, demitindo o primeiro-ministro e vários ministros em uma tentativa de atender às demandas dos manifestantes.
A União Africana pediu calma e elogiou o compromisso do governo com o diálogo. "Instamos todas as partes a exercerem moderação máxima e buscarem soluções pacíficas por meio do diálogo," declarou um porta-voz da UA.
Contexto econômico
Madagascar continua sendo um dos países mais pobres do mundo, com as Nações Unidas estimando que 78% da população vive na pobreza. Quase metade das crianças menores de cinco anos sofre de desnutrição, destacando os profundos desafios econômicos que o país enfrenta. Os problemas econômicos do país foram agravados pela instabilidade política, incluindo o golpe de 2009 que levou Rajoelina ao poder pela primeira vez.
O presidente Rajoelina, que cumpre agora seu segundo mandato após reeleição em 2023, condenou o que chama de tentativas de desestabilização enquanto pede diálogo. "Permaneço comprometido em encontrar soluções pacíficas para os desafios que nossa nação enfrenta," declarou ele em discurso recente. Mas com tropas militares agora abertamente apoiando manifestantes e facções rivais reivindicando controle sobre operações de segurança, Madagascar enfrenta um futuro incerto que pode remodelar seu cenário político nos próximos anos.