Militares assumem poder em Madagascar após semanas de protestos juvenis
O Coronel Michael Randrianirina foi empossado como novo presidente de Madagascar após uma tomada de poder militar que removeu o ex-líder Andry Rajoelina. A cerimônia ocorreu em 17 de outubro de 2025 no Supremo Tribunal em Antananarivo, marcando uma dramática mudança política no estado insular após semanas de protestos massivos liderados por jovens.
De comandante de elite a presidente
Randrianirina, um ex-comandante de 48 anos da unidade de elite do exército CAPSAT, havia sido preso anteriormente em 2023 por supostos planos de motim. Sua ascensão ao poder representa uma reversão impressionante de fortuna. 'Randrianirina é um homem muito desconhecido,' disse a correspondente africana Elles van Gelder. 'Sabemos que sua unidade se chama CAPSAT e que ele gradualmente se tornou um oponente do presidente fugitivo de Madagascar.'
O novo líder disse à AP que a tomada do poder militar foi um passo para 'assumir responsabilidade como cidadão' e prometeu que 'o país será restaurado à sua antiga glória.' Ele anunciou que governará por dois anos antes que as eleições aconteçam.
Revolução liderada por jovens
A transição política foi desencadeada por três semanas de protestos massivos liderados por ativistas da Geração Z que estavam frustrados com pobreza, corrupção e infraestrutura deficiente. As manifestações começaram devido a escassez crônica de água e eletricidade, mas rapidamente escalaram para exigências de mudança de regime.
'Na verdade, ele aproveitou os protestos dos jovens da Geração Z que vemos em muitos países africanos,' explicou van Gelder. 'Randrianirina diz que está lá para o povo e que assumiu o poder apenas para realizar uma Madagascar melhor.'
Os protestos resultaram em pelo menos 22 mortes desde 25 de setembro, de acordo com a Anistia Internacional, que condenou a 'violência ilegal e excessiva' das autoridades contra manifestantes pacíficos.
Condenação internacional
As Nações Unidas condenaram a tomada do poder militar como 'inconstitucional' e pediram a restauração do estado de direito. Madagascar foi suspenso como membro da União Africana após a mudança de poder.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, expressou preocupação com a situação, enquanto diplomatas internacionais compareceram à cerimônia de posse, sinalizando reações internacionais complexas à transição política.
Crise econômica alimenta instabilidade
Madagascar continua sendo um dos países mais pobres do mundo, onde 75% da população vive abaixo da linha de pobreza de US$ 2,15 por dia. A economia do país tem lutado desde a independência, com o PIB per capita caindo 45% desde 1960.
De acordo com a RFI, quase metade das crianças menores de cinco anos sofre de desnutrição, destacando a grave situação humanitária que alimentou os protestos.
Reformas políticas anunciadas
Randrianirina dissolveu imediatamente instituições importantes, incluindo o Supremo Tribunal e a comissão eleitoral, e anunciou planos para um referendo sobre uma nova constituição. 'Ao mesmo tempo, ele dissolveu diretamente instituições importantes, como o Supremo Tribunal e a comissão eleitoral,' observou van Gelder. 'Ele também disse que deve haver um referendo sobre uma nova constituição. O que exatamente ele tem em mente para o país permanece, portanto, incerto.'
O novo presidente prometeu durante sua cerimônia de posse reformas abrangentes dos sistemas administrativos, socioeconômicos e políticos, de acordo com a reportagem da BBC.
Padrão regional de ativismo juvenil
Os protestos em Madagascar fazem parte de um padrão mais amplo de ativismo da Geração Z em toda a África e Ásia. Movimentos semelhantes liderados por jovens surgiram recentemente no Quênia, Nepal e Marrocos, impulsionados pela frustração com corrupção, desemprego e medidas de austeridade.
'Também há discussão sobre se isso foi um golpe de estado ou não,' observou van Gelder. 'Afinal, o próprio presidente fugiu do país, depois o parlamento disse que iria destituí-lo e os militares assumiram o controle.'
Enquanto Madagascar entra neste novo capítulo político, o mundo observa se a transição liderada pelos militares trará as reformas significativas exigidas pela juventude do país, ou seguirá o padrão de outros países africanos onde tomadas de poder militar não produziram mudanças duradouras.