O Ataque Silencioso da Meta a Contas LGBTQ+ e de Aborto
Em um episódio que ativistas chamam de uma das maiores ondas de censura dos últimos anos, a Meta Platforms removeu ou restringiu silenciosamente cerca de 50 contas no Facebook, Instagram e WhatsApp que focam em conteúdo LGBTQ+, queer e relacionado ao aborto. A gigante de tecnologia alega que essas contas violaram as regras da plataforma, mas forneceu poucas evidências para essas ações, de acordo com uma investigação do The Guardian.
Conta Holandesa Entre as Vítimas
Entre as contas afetadas está a holandesa The Queer Agenda, de Amsterdã, que compartilha notícias sobre festas queer e exposições de fotografia. A fundadora Jackie van Gemert disse a repórteres que sua conta no Instagram foi repentinamente bloqueada pela Meta sem explicação. 'De repente, você perde seu trabalho e o acesso à sua comunidade,' disse Van Gemert, observando que a organização perdeu 11.000 seguidores em uma noite quando suas contas organizacional e pessoal foram removidas.
Capturas de tela compartilhadas com jornalistas mostram que o sistema automatizado da Meta marcou The Queer Agenda por supostamente 'promover tráfico de pessoas para fins sexuais.' Van Gemert suspeita que o sistema reagiu a fotos de frequentadores de clubes com roupas mínimas, mas questiona por que conteúdo semelhante de influencers em biquínis nas praias permanece intocado. 'Não sei o que há de diferente nisso em comparação com influencers de biquíni na praia,' ela observou.
Moderação por IA e Campanhas Coordenadas de Denúncia
O problema, segundo a organização de direitos reprodutivos Repro Uncensored, está na crescente dependência da Meta de sistemas de inteligência artificial para detectar violações de regras. Esses sistemas estão sendo manipulados por ativistas antiaborto e anti-LGBTQ+ que conduzem campanhas coordenadas de denúncia em massa contra determinadas contas.
Lotje Beek, da organização de direitos civis Bits of Freedom, chamou a situação de 'escandalosa', mas observou que ela se encaixa no padrão recente da Meta. 'Após a eleição de Trump, as pessoas não podiam mais pesquisar por '#democrats', e certas contas de aborto já haviam sido removidas antes,' ela explicou, ligando a abordagem atual à mudança de rumo conservadora anunciada pelo CEO da Meta, Mark Zuckerberg, no início deste ano.
Implicações Legais Europeias
Beek enfatizou que, embora a Meta possa estabelecer regras da plataforma, elas devem cumprir a legislação europeia. 'A Comissão Europeia precisa intervir aqui: a lei deve ser cumprida, caso contrário, sanções devem ser impostas à Meta,' ela declarou, referindo-se a possíveis violações da Lei de Serviços Digitais, que proíbe moderação de conteúdo discriminatória com base em crenças políticas ou ideológicas.
A situação destaca uma tendência mais ampla na moderação de conteúdo. De acordo com relatórios, a Meta está substituindo 90% de seus moderadores humanos por sistemas de IA, apesar dos avisos sobre preconceitos algorítmicos. O relatório anual da GLAAD recomenda especificamente que a IA apenas marque conteúdo para revisão humana, não o remova automaticamente.
Consequências Reais
O impacto vai além das estatísticas das redes sociais. Linhas de ajuda ao aborto em países onde o aborto é legal foram bloqueadas, cortando indivíduos vulneráveis de informações que salvam vidas. Organizações como a Women Help Women, que recebe 150.000 e-mails por ano de mulheres buscando informações sobre aborto, foram afetadas.
A Repro Uncensored relata que os incidentes de remoção de contas e restrições severas mais do que dobraram este ano, com 210 casos em 2025 em comparação com 81 em 2024. Muitas organizações recebem explicações vagas e enfrentam processos de recurso frustrantemente lentos, embora algumas contas tenham sido restauradas após pressão pública.
Construindo Plataformas Independentes
O conselho de Beek para organizações afetadas é claro: 'Tente não depender muito de uma única plataforma e tente atrair pessoas para sua própria plataforma ou site, para que você tenha controle sobre seu alcance.' The Queer Agenda segue esse caminho, lançou seu próprio site e está considerando grupos no Signal e revistas impressas.
À medida que a Meta continua sua transição para a moderação orientada por IA, a tensão entre a aplicação automatizada de conteúdo e os direitos de expressão protegidos parece apenas aumentar, com comunidades marginalizadas frequentemente sofrendo as consequências de erros algorítmicos e sistemas tendenciosos.