Victoria torna-se o primeiro estado australiano a celebrar tratado com povos indígenas, incluindo representação permanente e desculpas formais. O acordo histórico segue referendo nacional fracassado de 2023.
Tratado histórico assinado em Victoria
Em um momento histórico para a história australiana, o estado de Victoria assinou o primeiro tratado oficial do país com povos indígenas. O acordo vinculativo foi sancionado como lei em 12 de novembro de 2025, após quase uma década de consultas e negociações entre o governo victoriano e líderes indígenas. A cerimônia de assinatura ocorreu na Government House em Melbourne, onde a primeira-ministra Jacinta Allan descreveu o momento como 'um novo capítulo na história do nosso estado'.
O que o tratado inclui
O tratado, que entra em vigor em 12 de dezembro de 2025, contém desculpas formais à população indígena e estabelece o Gellung Warl - um órgão representativo permanente que assessorará o governo victoriano sobre decisões que afetam comunidades aborígenes. O acordo dá aos povos indígenas maior controle em áreas cruciais como saúde, habitação, educação e práticas culturais. 'Quando as pessoas podem realmente participar das decisões que afetam suas vidas, suas perspectivas melhoram e nosso estado se torna mais justo,' declarou a primeira-ministra Allan durante a cerimônia.
Contexto histórico australiano
A Austrália está significativamente atrás de outras ex-colônias britânicas na celebração de tratados com povos indígenas. Ao contrário dos Estados Unidos, Canadá e Nova Zelândia, a Austrália nunca celebrou um tratado com seus habitantes originais. O continente foi reivindicado como colônia penal britânica em 1788, levando a séculos de deslocamento, violência e discriminação sistemática contra populações aborígenes e do Estreito de Torres. Até os anos 70, uma política da 'Austrália Branca' estava em vigor e crianças indígenas eram sistematicamente removidas de suas famílias no que ficou conhecido como Gerações Roubadas.
Atualmente, aproximadamente um milhão de aborígenes australianos e habitantes do Estreito de Torres ainda pontuam abaixo da média nacional em quase todos os indicadores socioeconômicos, incluindo expectativa de vida, conquistas educacionais e taxas de emprego.
Significado jurídico e político
De acordo com um professor de direito da Universidade de New South Wales, o tratado representa um reconhecimento crucial do direito dos povos indígenas à autodeterminação. 'Este momento influenciará as conversas sobre tratados no resto do país,' ele disse à Reuters.
As negociações do tratado em Victoria começaram em 2016 com o estabelecimento da First Peoples' Assembly, um órgão independente e democraticamente eleito que representa Proprietários Tradicionais e populações aborígenes e do Estreito de Torres. Os copresidentes da Assembly, Ngarra Murray e Rueben Berg, juntaram-se à primeira-ministra Allan na assinatura do acordo histórico.
Contraste com referendo nacional
Este sucesso em nível estadual contrasta fortemente com o referendo nacional fracassado de 2023, onde quase 60% dos australianos votaram contra o estabelecimento de uma Voz Indígena no parlamento através da constituição. Aquele referendo teria reconhecido aborígenes e habitantes do Estreito de Torres como os primeiros povos da Austrália e criado um órgão consultivo constitucional. A derrota foi particularmente dolorosa para comunidades indígenas, que há gerações defendem o reconhecimento constitucional.
Rueben Berg, copresidente da First Peoples' Assembly, enfatizou a permanência da conquista do tratado: 'Estas palavras não desaparecerão' agora que o acordo está consagrado em legislação.
Implicações futuras
O tratado victoriano cria uma estrutura que pode servir como modelo para outros estados e territórios australianos. Ele não apenas estabelece o órgão representativo permanente Gellung Warl (que significa 'ponta da lança' na língua Gunaikurnai), mas também estabelece mecanismos de responsabilidade e continua o trabalho de contação da verdade iniciado pela Yoorrook Justice Commission.
Embora a oposição da coalizão tenha jurado revogar o tratado se for eleita em 2026, a legislação representa um passo significativo em direção à reconciliação que muitos esperam que inspire progresso semelhante em todo o país. A assinatura do tratado foi descrita pelo chefe de direitos humanos das Nações Unidas como 'histórica' e marca Victoria como a primeira jurisdição australiana a alcançar este marco no relacionamento frequentemente problemático da nação com seus Primeiros Povos.
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