O partido ANO de Andrej Babiš vence as eleições tchecas com 34,5%, ameaçando o Acordo Verde da UE, o apoio à Ucrânia e a política de migração. Uma coalizão com partidos de extrema-direita pode complicar a agenda de Bruxelas.

Vitória Eleitoral de Babiš Sinaliza Grande Mudança nas Relações Tcheco-UE
O populista de direita Andrej Babiš conquistou uma vitória decisiva nas eleições parlamentares tchecas, com seu movimento ANO obtendo 34,5% dos votos e 80 assentos na Câmara dos Deputados de 200 lugares. O bilionário empresário, que já foi primeiro-ministro de 2017 a 2021, pretende agora formar um governo minoritário com apoio de partidos de extrema-direita e direita, o que pode criar desafios significativos para as políticas da União Europeia.
Problemas de Política da UE no Horizonte
Após sua vitória eleitoral, Babiš enfatizou sua postura pró-europeia e disse que queria que 'a Europa funcionasse bem'. No entanto, suas promessas de campanha contradizem políticas importantes da UE. Ele jurou 'destruir' o Acordo Verde Europeu, parar o fornecimento de armas para a Ucrânia e rejeitar o pacto de migração e asilo europeu. Segundo o número dois do ANO, Karel Havlíček, 'o próximo governo enviará imediatamente uma carta a Bruxelas informando que a República Tcheca não introduzirá cotas de emissão para famílias e pretende rejeitar o pacto migratório.'
Desafios de Coalizão e Preocupações da UE
Babiš enfrenta o desafio de formar um governo sem maioria parlamentar. Ele indicou que buscará apoio do movimento de extrema-direita Liberdade e Democracia Direta (SPD), que obteve 7,8% dos votos, e do partido de direita Motoristas (AUTO) com 6,8%. Esta composição de coalizão preocupa Bruxelas sobre a direção futura da política tcheca.
Petr Just, analista da Universidade Metropolitana de Praga, observou que 'É claro que esta questão estará na mesa e será objeto de alguma negociação,' referindo-se à busca do SPD por um referendo da UE. Ele acrescentou que isso dá ao SPD 'possibilidades de chantagem' porque Babiš não pode governar sem seu apoio.
Impacto no Apoio à Ucrânia
O resultado eleitoral representa uma mudança significativa na política tcheca em relação à Ucrânia. O governo de centro-direita que está saindo, liderado por Petr Fiala, foi um forte defensor de Kiev desde a invasão russa em grande escala em 2022, chegando a lançar uma iniciativa bem-sucedida que forneceu 3,5 milhões de projéteis de artilharia para as forças ucranianas.
Babiš lançou dúvidas sobre o apoio militar contínuo e disse 'Todos os anos enviamos 2,5 bilhões de euros no orçamento para Bruxelas. E, claro, Bruxelas ajuda a Ucrânia. E a nova proposta para o novo orçamento inclui uma grande quantia para a Ucrânia. Então acho que estamos resolvidos.' Ele também questionou a prontidão da Ucrânia para a adesão à UE e disse à mídia ucraniana que 'a Ucrânia não estava preparada para a UE' e que 'precisamos primeiro terminar a guerra.'
Alianças Regionais e Dinâmica da UE
Babiš mantém relações estreitas com outros líderes eurocéticos, particularmente o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, com quem co-fundou o grupo Patriots for Europe no Parlamento Europeu. Ele também admira abertamente o ex-presidente americano Donald Trump.
Martin Vokálek do instituto tcheco Europeum em Bruxelas observou que, embora a sociedade tcheca não queira 'que haja uma saída completa da estrutura democrática e da orientação europeia do país,' haverá 'pelo menos uma mudança no tom, estilo e prioridades.'
O primeiro-ministro eslovaco Robert Fico saudou a vitória de Babiš e disse que espera que o Grupo de Visegrád - composto por República Tcheca, Polônia, Hungria e Eslováquia - se fortaleça com Babiš no comando em Praga. Fico observou que 'Conhecendo o provável novo primeiro-ministro da República Tcheca, Babiš, ele estará interessado na cooperação regional, e será muito importante se o trio Babiš, Orbán e Fico conseguirá convencer o primeiro-ministro polonês Donald Tusk no mesmo espírito.'
Implicações Europeias Mais Amplas
Os resultados eleitorais tchecos chegam em um momento crítico para a União Europeia e podem dificultar os esforços para manter a unidade em questões importantes, incluindo política climática, migração e apoio à Ucrânia. Com Babiš se juntando a outros líderes eurocéticos no grupo Patriots for Europe, Bruxelas pode enfrentar mais resistência à sua agenda política.
Jean-Michel De Waele da Université Libre de Bruxelles observou que 'Babiš à frente do governo tcheco pode dificultar a construção de uma Europa mais forte e unida do ponto de vista econômico, social e militar.'
O presidente Petr Pavel indicou que nomeará o novo governo até novembro, para que os políticos tenham tempo para negociações. A composição final do governo de Babiš e suas prioridades políticas determinarão a extensão do desafio que os formuladores de políticas da UE enfrentarão nos próximos meses.