Fundo Global de Biodiversidade Abre com Meta Anual de US$ 200 Bilhões

Países alcançam acordo sobre financiamento anual de US$ 200 bilhões para biodiversidade até 2030, quebrando impasse com novos mecanismos, incluindo o Fundo Cali para comunidades indígenas.

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Acordo Histórico Desbloqueia Financiamento para Conservação da Natureza

Em uma decisão inovadora que pode reformar os esforços globais de conservação, os países finalmente concordaram com um mecanismo de financiamento abrangente para proteger a biodiversidade em rápido declínio. Após intensas negociações durante a retomada da Conferência da ONU sobre Biodiversidade (COP16.2) em Roma, 196 países adotaram um roteiro de financiamento que visa mobilizar US$ 200 bilhões por ano até 2030 para conservação e restauração da natureza.

Quebrando o Impasse de Financiamento

O acordo resolve um impasse de longa data que surgiu durante a cúpula da COP16 em Cali, Colômbia, em 2024, onde os países não conseguiram chegar a um consenso sobre o financiamento crucial necessário para implementar o Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal. 'Este avanço mostra que o multilateralismo funciona e fornece os recursos para alcançar a paz com a natureza,' disse um alto funcionário da ONU envolvido nas negociações.

A janela de financiamento se abre em um momento crítico. Cientistas alertam que mais de um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção devido a atividades humanas, com populações selvagens diminuindo 73% desde 1970. O novo acordo visa especificamente a lacuna estimada de US$ 700 bilhões anuais em financiamento da biodiversidade que tem impedido os esforços globais de conservação.

Componentes Principais da Estrutura de Financiamento

O acordo estabelece vários mecanismos cruciais:

  • Metas Anuais: US$ 20 bilhões por ano para países em desenvolvimento a partir de 2025, aumentando para US$ 30 bilhões até 2030
  • Fundo Cali: Um novo mecanismo que coletará contribuições de empresas que usam recursos genéticos, com pelo menos 50% alocados para povos indígenas e comunidades locais
  • Reforma de Subsídios: Compromisso de eliminar progressivamente US$ 500 bilhões em subsídios prejudiciais anualmente até 2030
  • Envolvimento do Setor Privado: O texto final menciona financiamento privado 19 vezes, sinalizando fortes expectativas para o envolvimento corporativo

Implicações para Políticas e Mercados

O acordo de financiamento cria efeitos significativos em políticas e mercados financeiros. De acordo com a análise da Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, as instituições financeiras são agora chamadas a fortalecer a proteção ambiental, ampliar investimentos em biodiversidade por meio de fundos de impacto e financiamento misto, e melhorar a transparência por meio de estruturas de divulgação relacionadas à natureza.

'Isso estabelece precedentes importantes para futuras negociações ambientais e fortalece as expectativas de alinhamento do setor financeiro com metas de conservação da biodiversidade,' observou um analista do setor financeiro que acompanha o acordo.

O Fórum Econômico Mundial estima que riscos relacionados à natureza podem custar à economia global US$ 10-25 trilhões por ano, enquanto investir em soluções baseadas na natureza pode gerar US$ 10,1 trilhões em oportunidades de negócios anuais. Isso cria incentivos econômicos poderosos para a participação do setor privado.

Impacto no Nível Comunitário e Direitos Indígenas

Talvez o aspecto mais significativo do acordo seja o foco em povos indígenas e comunidades locais. O requisito do Fundo Cali de que pelo menos 50% das contribuições vão para esses grupos reconhece seu papel crucial como administradores da biodiversidade. Pesquisa publicada em 2025 destaca como abordagens comunitárias para o financiamento da biodiversidade devem ser alinhadas com contextos culturais específicos e sistemas de conhecimento.

'Povos indígenas e comunidades locais gerenciam e possuem grandes regiões que requerem investimento para gestão da biodiversidade,' explicaram os autores do estudo. 'Atores globais devem entender esses caminhos específicos da comunidade e adaptar o financiamento de acordo.'

Desafios de Implementação no Horizonte

Embora o acordo represente um grande avanço, desafios significativos de implementação permanecem. A decisão sobre a criação de um novo fundo dedicado à biodiversidade para substituir o arranjo existente do Global Environment Facility foi adiada até 2028. Além disso, apenas 47 países enviaram suas estratégias nacionais de biodiversidade exigidas, apesar de todos os 196 signatários do Quadro de Kunming-Montreal se comprometerem a fazê-lo.

A Iniciativa de Financiamento da Biodiversidade (BIOFIN) do PNUD já demonstrou o que é possível, ajudando governos parceiros a desbloquear mais de US$ 2,7 bilhões para a conservação global da natureza, representando um aumento significativo em relação a US$ 1,7 bilhão em 2024. Modelos bem-sucedidos incluem o título verde de US$ 150 milhões da Zâmbia para energia renovável e o sistema de transferência fiscal ecológica da Malásia que canaliza centenas de milhões anualmente.

O Caminho para 2030

A janela de financiamento que se abre em 2025 marca o início de um período crítico de implementação de cinco anos. Os países agora devem traduzir o acordo em políticas nacionais concretas, mobilizar investimentos do setor privado e garantir que os fundos cheguem às comunidades mais diretamente envolvidas na conservação da natureza. O sucesso desse esforço determinará se o mundo pode alcançar as metas ambiciosas do Quadro de Kunming-Montreal, incluindo a proteção de 30% das áreas terrestres e marinhas até 2030.

Como observou um advogado ambiental: 'Celebramos o avanço, mas o trabalho real começa agora. A implementação determinará se esses compromissos se traduzem em proteção significativa para a biodiversidade do nosso planeta.'

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