Victoria assina primeiro tratado com povos aborígenes da Austrália

Victoria adota o primeiro tratado da Austrália com povos aborígenes, criando representação indígena permanente e busca da verdade. O acordo histórico ocorre dois anos após referendo nacional fracassado.

Tratado histórico marca nova era para direitos indígenas

Em um momento histórico para os direitos indígenas, o estado australiano de Victoria adotou o primeiro tratado do país com povos aborígenes, criando uma estrutura permanente para autodeterminação e busca da verdade. A legislação, aprovada em 30 de outubro de 2025, cria o órgão Gellung Warl - que significa 'ponta de lança' na língua Gunaikurnai - que servirá como uma organização de representação democraticamente eleita para os Primeiros Povos.

'Este tratado capacita a comunidade aborígene para moldar conjuntamente as políticas que afetam suas vidas,' disse a primeira-ministra estadual Jacinta Allan durante a sessão parlamentar emocionante. 'É assim que construímos um Victoria mais justo e forte para todos.'

Vitória após revés nacional

O avanço em nível estadual ocorre apenas dois anos após um referendo nacional sobre o reconhecimento constitucional dos indígenas australianos ter falhado em 2023. Essa proposta, que teria criado uma Voz ao Parlamento para aborígenes e habitantes das Ilhas do Estreito de Torres, foi rejeitada por quase 60% dos eleitores, apesar do forte apoio das comunidades indígenas.

O tratado de Victoria representa uma abordagem diferente - focada em acordos em nível estadual em vez de emenda constitucional. 'Podemos mostrar ao resto da Austrália que isso não é algo para temer,' disse Jill Gallagher, diretora da Victorian Aboriginal Community Controlled Health Organisation. 'Na verdade, isso nos aproxima ainda mais.'

Enfrentando injustiças históricas

O tratado baseia-se no trabalho da Yoorrook Justice Commission, primeiro órgão formal de busca da verdade da Austrália, que documentou o impacto devastador da colonização na população indígena de Victoria. A comissão constatou que, dentro de vinte anos após o início do assentamento britânico em 1788, mais de três quartos da população aborígene de Victoria havia sido morta - uma descoberta que a comissão descreveu como genocídio.

O contexto histórico é angustiante: os indígenas australianos representam 3,8% da população, mas enfrentam desvantagens significativas em saúde, educação, emprego e justiça. Os aborígenes vivem em média nove anos a menos do que os australianos não indígenas, as taxas de suicídio são mais que o dobro e os indígenas estão dramaticamente super-representados nas prisões.

Estrutura e implementação do tratado

O tratado estabelece várias instituições importantes com nomes linguísticos aborígenes que refletem significado cultural:

  • Gellung Warl - O órgão de representação permanente que será consultado sobre todas as leis e políticas que afetam os indígenas de Victoria
  • Nyerna Yoorrook Telkuna - Significa 'sentar, ouvir, escutar, revelar a verdade para curar e sarar' na língua Wamba Wamba/Wemba Wemba, este órgão continua o trabalho de busca da verdade
  • Nginma Ngainga Wara - A comissão de prestação de contas que supervisiona os programas governamentais

O tratado também exige atualizações no currículo educacional de Victoria para incluir lições mais abrangentes sobre história e cultura aborígene, abordando o que muitos descrevem como a 'história oculta' da Austrália.

Desafios políticos à frente

Apesar do clima festivo no parlamento, o tratado enfrenta oposição política significativa. O Partido Liberal de Victoria prometeu revogar a legislação dentro de 100 dias se for eleito nas eleições estaduais de 2026. 'Isso cria uma camada adicional de governança,' argumentou o líder da oposição John Pesutto, refletindo preocupações sobre a estrutura e os custos do tratado.

Estima-se que a implementação do tratado custe dezenas de milhões de dólares por ano, embora os defensores afirmem que este é um pequeno investimento em comparação com os custos contínuos da desvantagem indígena.

A legislação entra em vigor em dezembro de 2025, marcando o início do que os líderes indígenas esperam ser um novo capítulo na relação da Austrália com seus Primeiros Povos. Como declarou Ngarra Murray, copresidente da First Peoples' Assembly: 'Este é um momento histórico que marca o início de uma nova era em que os 60.000 anos de conhecimento e cultura dos Primeiros Povos são respeitados.'

Para mais informações sobre o processo do tratado, visite o site do Tratado de Victoria.

Mei Zhang

Mei Zhang é uma premiada jornalista ambiental da China, reconhecida por seus impactantes relatórios sobre sustentabilidade. Seu trabalho ilumina desafios e soluções ecológicas críticas.

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