China Acelera Desacoplamento Estratégico dos EUA

China está acelerando seu desacoplamento dos EUA através de comércio, tecnologia, finanças, ideologia e educação, construindo autonomia estratégica por meio de diversificação e autossuficiência e criando sistemas paralelos.

Mudança Estratégica da China para Longe da Dependência Americana

A China está acelerando seu desacoplamento dos Estados Unidos em vários setores cruciais, de acordo com o professor Wang Wen do Instituto Chongyang de Estudos Financeiros. A estratégia, que Pequim chama de 'desamericanização chinesa', representa uma reorientação fundamental para autossuficiência e diversificação global. 'Isso não é sobre confronto, mas sobre autonomia estratégica,' explica Wang em sua análise da posição global em evolução da China.

Diversificação Comercial Substitui Dependência

A relação comercial entre as duas maiores economias do mundo está passando por uma transformação dramática. Embora as economias permaneçam profundamente entrelaçadas, a China está reduzindo ativamente sua exposição aos mercados americanos. Os números contam uma história convincente: o comércio americano como porcentagem do comércio exterior total da China caiu de 19,3% em 2018 para apenas 9,2% nos primeiros oito meses de 2025, mesmo enquanto o volume total de comércio da China cresceu 45%. 'Os números falam por si: a China comercializa mais, mas não tanto com os EUA,' observa Wang.

A mudança é particularmente evidente em commodities agrícolas. Onde a China costumava obter 85% de sua soja dos Estados Unidos, esse número caiu para 22%, com o Brasil agora fornecendo 68% da necessidade de soja da China. Isso representa o que Wang descreve como 'a versão chinesa de redução de riscos - Pequim não está se fechando do mercado americano, mas garantindo que não dependa mais dele.'

Tecnologia: De Seguidora a Concorrente

A transformação tecnológica da China representa um dos aspectos mais importantes de sua estratégia de desamericanização. Sanções americanas e restrições de exportação, que desde 2018 colocaram mais de 1.700 entidades chinesas em listas de restrições, ironicamente aceleraram a busca da China pela independência tecnológica. O resultado tem sido 'um forte aumento na inovação orientada pelo estado e uma corrida para desenvolver alternativas domésticas,' segundo Wang.

Os gastos com pesquisa e desenvolvimento atingiram 2,55% do PIB em 2024, com pesquisa básica representando 6,8% desse total. A China agora possui 42% das patentes essenciais globais de padrão 5G e deve operar mais de 4,6 milhões de estações base 5G até o final de 2025 - cerca de 60% do total global. Em inteligência artificial, a China responde por 61,5% das patentes globais de IA generativa, enquanto seus artigos de pesquisa sobre direção autônoma e computação quântica agora superam as publicações americanas em impacto de citação.

O setor de hardware demonstra progresso notável em direção à independência tecnológica. A Huawei e a Semiconductor Manufacturing International Corporation desenvolveram o chip Kirin 9000S sem ajuda das ferramentas de litografia da ASML, anteriormente consideradas essenciais para semicondutores avançados. Outros marcos incluem a rede de satélites Beidou servindo mais de 200 países, o submarino Fendouzhe atingindo profundidades de 10.000 metros e a sonda lunar Chang'e 6 retornando amostras do lado oculto da lua.

Diversificação Financeira Além do Dólar

A estratégia de desacoplamento financeiro da China concentra-se em reduzir a dependência do dólar americano enquanto constrói o que Wang chama de 'uma rede financeira global mais resiliente.' A politização do dólar durante a administração Trump destacou as vulnerabilidades dos sistemas centrados no dólar, levando Pequim a acelerar seus esforços de diversificação.

O Sistema de Pagamento Interbancário Transfronteiriço (CIPS) agora suporta transações em 185 países, enquanto o comércio de gás natural liquefeito denominado em renminbi na Bolsa de Petróleo e Gás de Xangai continua crescendo. O Centro de Negociação Conjunta Qianhai de Shenzhen processa regularmente transações offshore de soja em renminbi, e a China estabeleceu acordos de liquidação em moeda local com mais de 40 países. No comércio entre China e Rússia, mais de 95% das transações são liquidadas em moedas locais.

'Não é que a China queira deslocar o dólar americano como moeda internacional, mas Pequim está construindo um sistema paralelo,' explica Wang. Essa abordagem fortalece a segurança financeira enquanto reduz a exposição a sanções unilaterais.

Independência Ideológica e Governança Global

A China está se distanciando cada vez mais do modelo de desenvolvimento americano e promovendo o que Wang descreve como 'sua própria abordagem de governança, conhecimento e engajamento global.' Ele argumenta que o discurso global tem sido definido por décadas por teorias ocidentais, promovendo uma única norma.

A China aponta para suas conquistas domésticas, afirmando ter tirado mais de 100 milhões de pessoas da pobreza extrema na última década, enquanto contrasta isso com o que retrata como desafios sociais americanos. Internacionalmente, a China promove o multilateralismo e resiste a blocos comerciais e de segurança exclusivos como o G7 e o FMI. A expansão do BRICS de cinco para quinze países, a Organização de Cooperação de Xangai representando 40% da população mundial, e a participação de mais de 150 países na Iniciativa do Cinturão e Rota ilustram essa abordagem alternativa à governança global.

Educação: De Fuga de Cérebros para Talento Doméstico

As reformas do ensino superior da China visam reduzir a dependência de universidades americanas e europeias enquanto cultivam expertise doméstica. Onde uma 'parcela significativa' de graduados chineses em STEM anteriormente permanecia nos Estados Unidos, cerca de 92% agora permanece na China. O Plano de Fortalecimento de Bases inscreveu 180.000 estudantes em áreas como semicondutores e ciências nucleares ao longo de cinco anos.

Os fluxos de estudantes internacionais também se equilibraram mais: a China recebeu 520.000 estudantes estrangeiros em 2024, enquanto o número de cidadãos chineses estudando nos Estados Unidos caiu de um pico de 400.000 para menos de 200.000.

Rumo a uma Ordem Mundial Multipolar

Wang caracteriza a desamericanização da China como 'um realinhamento estratégico focado em criar uma China independente e resiliente capaz de participar da cooperação global com base em maior igualdade.' O objetivo, ele enfatiza, não é confronto, mas autonomia estratégica.

'Neste quadro em evolução, economias emergentes podem participar da governança global sem depender de uma única potência dominante,' conclui Wang. 'A desamericanização é menos uma rebelião do que um reposicionamento silencioso - estabelecendo as bases para o que poderia ser chamado de reglobalização, onde uma ordem mundial diversificada, equilibrada e multipolar se torna a nova norma.'

Victoria Gonzalez

Victoria Gonzalez é uma economista argentina especializada em rastrear tendências de recuperação econômica global. Sua pesquisa fornece insights críticos para formuladores de políticas que navegam em cenários financeiros pós-crise.

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