Países da UE assinam acordo histórico de carga ferroviária

Futuro do transporte de mercadorias na Europa ganha forma com acordo histórico

Em um desenvolvimento crucial para a logística europeia, nove Estados-membros da União Europeia assinaram o Acordo de Integração de Carga Ferroviária Europeia (ERCIA), um pacto inovador que revolucionará o transporte transfronteiriço de mercadorias por ferrovia no continente. O acordo, assinado por Alemanha, França, Itália, Países Baixos, Polônia, Áustria, Bélgica, Espanha e República Tcheca, representa o esforço coordenado mais significativo em décadas para enfrentar as ineficiências persistentes que há muito afligem o transporte ferroviário de carga na Europa.

Romper barreiras para a eficiência transfronteiriça

Historicamente, o transporte ferroviário de carga europeu tem sofrido com a fragmentação, com diferentes países empregando sistemas de sinalização incompatíveis, protocolos de segurança divergentes e procedimentos burocráticos nas fronteiras que podem atrasar remessas por dias. De acordo com uma análise recente da Comunidade das Empresas Ferroviárias e de Infraestrutura Europeias (CER), esses desafios transfronteiriços mantiveram a participação do transporte ferroviário no transporte doméstico de mercadorias em apenas 18%, muito abaixo de seu potencial. O novo acordo aborda diretamente esses pontos críticos com um pacote abrangente de reformas.

'Este acordo marca um ponto de virada para a logística europeia,' disse Maria Price, a recém-nomeada secretária-geral da Associação Europeia de Carga Ferroviária (ERFA). 'Por muito tempo, o transporte ferroviário de carga foi prejudicado por diferenças nacionais que tornam as operações transfronteiriças desnecessariamente complexas e caras. O ERCIA fornece a estrutura de que precisamos para construir uma rede ferroviária europeia verdadeiramente integrada.'

Componentes principais do acordo

O ERCIA introduz várias medidas inovadoras projetadas para agilizar as operações e fortalecer a competitividade do transporte ferroviário em relação ao rodoviário. Central para o acordo está a criação de uma documentação digital uniforme para mercadorias, que substituirá o atual mosaico de papelada nacional. Um hub de dados europeu compartilhado permitirá o rastreamento em tempo real de remessas através das fronteiras, oferecendo às empresas logísticas uma visibilidade sem precedentes de suas cadeias de suprimentos.

O acordo também inclui €4,2 bilhões em financiamento de infraestrutura dedicado para melhorar conexões transfronteiriças e modernizar corredores ferroviários-chave. Os protocolos de segurança serão harmonizados entre os países participantes, reduzindo a necessidade de múltiplas inspeções e certificações. Talvez o mais significativo seja que o acordo estabelece incentivos para a transferência de mercadorias da estrada para a ferrovia, com o objetivo de que pelo menos 30% do transporte transfronteiriço de mercadorias seja realizado por ferrovia até 2030.

Implicações ambientais e econômicas

Os ganhos ambientais dessa mudança modal podem ser significativos. De acordo com projeções mencionadas no acordo, alcançar a meta de 30% de carga ferroviária poderia reduzir as emissões em até 50 milhões de toneladas de CO₂ por ano até 2035. Isso se alinha com os objetivos climáticos mais amplos da UE e com as descobertas do relatório Logística de Emissões Zero de pesquisadores ferroviários europeus, que enfatiza o papel crucial da ferrovia na descarbonização do transporte.

Economicamente, o acordo promete reduzir os custos logísticos para as empresas enquanto cria cadeias de suprimentos mais resilientes. 'O sistema atual cria custos desnecessários que acabam sendo repassados aos consumidores,' observou um analista sênior de políticas da Transport & Environment. 'Ao agilizar as operações ferroviárias transfronteiriças, este acordo tornará as mercadorias europeias mais competitivas nos mercados globais enquanto reduz nossa pegada ecológica.'

Cronograma de implementação e desafios

A implementação do ERCIA está programada para começar no quarto trimestre de 2025, com a implantação completa visando a conclusão até 2028. A abordagem gradual permitirá que os países participantes adaptem gradualmente seus sistemas nacionais enquanto testam os novos procedimentos em corredores-chave, como as rotas Reno-Alpes e Báltico-Adriático.

No entanto, desafios permanecem. Nem todos os Estados-membros da UE assinaram o acordo, levantando questões sobre sua aplicação abrangente na União. Além disso, o relatório de política de transportes 2025 da Comissão Europeia enfatiza a necessidade de investimentos contínuos em infraestrutura ferroviária que vão além do que o acordo oferece. A harmonização técnica dos sistemas de sinalização e do material rodante exigirá um compromisso contínuo de ambos os setores, público e privado.

Uma nova era para a logística europeia

O Acordo de Integração de Carga Ferroviária Europeia representa mais do que apenas um acordo técnico—sinaliza uma mudança estratégica na forma como a Europa aborda o transporte de mercadorias. Ao priorizar a ferrovia como a espinha dorsal da logística transfronteiriça, os países participantes estão investindo em um sistema de transporte mais sustentável, eficiente e resiliente. À medida que a implementação começa no final de 2025, todos estarão observando se este pacto ambicioso pode cumprir sua promessa de transformar o transporte de mercadorias europeu para o século XXI.