Ataques aéreos americanos contra o ISIS na Nigéria resultaram na queda de um míssil na vila de Jabo. Não houve vítimas, mas o incidente revela tensões entre a narrativa religiosa de Trump e a complexa realidade de segurança nigeriana, que envolve múltiplos grupos armados.
Ataques Aéreos na Noite de Natal Visam ISIS na Nigéria
Durante a noite de Natal de 2025, forças militares dos Estados Unidos realizaram ataques aéreos de precisão contra supostos alvos do Estado Islâmico no noroeste da Nigéria, com um míssil caindo na vila de Jabo, no estado de Sokoto. Embora autoridades nigerianas tenham confirmado a operação conjunta com os Estados Unidos, moradores relataram fragmentos de bombas espalhados por terras agrícolas atrás de uma escola primária local, mas não houve registro de vítimas.
Os ataques, que o presidente Donald Trump descreveu no Truth Social como retaliação pela morte de cristãos pelo ISIS 'em uma escala não vista há anos, até séculos', desencadearam um debate sobre a natureza da crise de segurança nigeriana e a narrativa de conflito religioso. 'A bomba caiu e se partiu em muitos pedaços. Havia dois grandes fragmentos, um deles carregado por duas pessoas,' contou um morador de Jabo à Al Jazeera.
Narrativas Contraditórias Emergem
Enquanto Trump enquadrou a operação como proteção de cristãos contra extremistas islâmicos, funcionários nigerianos e especialistas em segurança reagiram a essa caracterização. O ministro das Relações Exteriores da Nigéria, Yusuf Tuggar, enfatizou que a operação foi uma missão militar contra o terrorismo, sem dimensão religiosa. 'Isso fez parte da cooperação contínua de segurança entre a Nigéria e os Estados Unidos, focada exclusivamente no combate ao terrorismo e na proteção de vidas inocentes, sem influência de considerações religiosas,' declarou Tuggar em entrevista à Channels Television.
Especialistas em segurança observam que o complexo cenário de segurança nigeriano envolve múltiplos grupos armados com motivações diversas. De acordo com dados da Wikipedia sobre o Boko Haram, o conflito já custou dezenas de milhares de vidas desde 2009, sendo a maioria das vítimas muçulmanas no norte predominantemente islâmico. 'Trump distorce os fatos e os tira de contexto,' disseram especialistas em segurança nigerianos a repórteres, observando que a violência jihadista na Nigéria afetou principalmente comunidades muçulmanas.
Moradores Descrevem Experiência Aterrorizante
Moradores de Jabo descreveram uma noite de Natal aterrorizante, com explosões fazendo suas casas tremerem e colorindo o céu de vermelho brilhante por horas. 'A vila inteira tremeu,' contou um morador ao News24. 'Pensamos que era um ataque de grupos armados, mas então vimos os fragmentos em nossos campos.' De acordo com relatórios da U.S. News, os ataques visavam o grupo Lakurawa, uma ameaça de segurança relativamente nova composta principalmente por combatentes estrangeiros da região do Sahel, na África.
O momento dos ataques no dia de Natal parece politicamente calculado, segundo o correspondente dos EUA, Rudy Bouma. 'Ao atacar no dia de Natal, Trump pode apresentar a ação como proteção aos cristãos e pontuar com sua base eleitoral cristã,' observou Bouma. Políticos republicanos, incluindo o senador Ted Cruz, há muito tempo se manifestam sobre a violência contra cristãos na Nigéria.
Implicações Mais Amplas de Segurança
O incidente destaca os desafios contínuos de segurança da Nigéria e o relacionamento complexo com parceiros internacionais. A Nigéria tem enfrentado violência de vários grupos, incluindo Boko Haram, Estado Islâmico na Província da África Ocidental (ISWAP) e outras facções armadas. De acordo com Sahara Reporters, os EUA recentemente relaxaram restrições sob a Lei Leahy, permitindo que a Nigéria compre hardware militar americano após anos de limitações ligadas a questões de direitos humanos.
O senador nigeriano Shehu Sani alertou nas redes sociais que 'a segurança e a paz de nosso país estão em nossas próprias mãos e não nas mãos dos EUA ou de qualquer outro país. Eles não podem lutar nossa batalha para sempre.' Esse sentimento reflete preocupações mais amplas sobre soberania e a sustentabilidade de longo prazo de intervenções militares estrangeiras.
Perspectivas Futuras
O ministro das Relações Exteriores Tuggar indicou que a Nigéria tentaria cooperar com mais países na luta contra o terrorismo, embora permaneça incerto se haverá ataques americanos adicionais. O incidente expôs tensões entre a narrativa de Washington sobre a crise de segurança nigeriana como motivada religiosamente e a insistência da Nigéria em vê-la como uma mistura complexa de terrorismo, conflito étnico e fatores econômicos.
Enquanto os moradores de Jabo avaliam os danos e consideram sua segurança, as questões mais amplas sobre intervenção internacional, soberania e a verdadeira natureza dos desafios de segurança da Nigéria permanecem sem solução. Com a população de cerca de 220 milhões da Nigéria dividida aproximadamente entre cristãos e muçulmanos, e a maior parte da violência ocorrendo no norte predominantemente islâmico, especialistas alertam contra a simplificação excessiva do conflito ao longo de linhas religiosas.
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