Segurança na Nuvem: Quem Realmente Tem Acesso aos Seus Dados?

Preocupações com a segurança na nuvem aumentam após a aquisição da provedora holandesa Solvinity por uma gigante tecnológica americana. Especialistas explicam o acesso à criptografia, riscos de soberania de dados e alternativas europeias.

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A Nuvem Explicada: Mais do que Apenas Armazenamento

Para muitas pessoas, a nuvem permanece um conceito misterioso. 'Como ela realmente funciona?', 'Para onde vão os nossos dados?' e 'Quem pode acessar as nossas informações pessoais?' são perguntas frequentes que ganharam nova urgência após desenvolvimentos recentes na indústria de nuvem.

Em essência, a computação em nuvem significa que os dados são armazenados ou os aplicativos são executados em servidores externos, em vez de no seu próprio dispositivo. Como explica Mark de Reuver, professor de plataformas digitais na TU Delft: 'A maioria das pessoas usa a nuvem para armazenar dados em algum lugar, pense no Google Drive.' Mas ela também é usada para aplicativos: 'Algumas pessoas usam, por exemplo, o Microsoft Word na nuvem, ou serviços como o Gmail.'

O termo 'nuvem' surgiu dos primeiros diagramas de rede, onde a infraestrutura complexa da internet era representada por um símbolo de nuvem. Hoje, ela representa a vasta rede interconectada de data centers que armazena e processa nossa informação digital.

Criptografia e Acesso: Quem Controla as Chaves?

Embora os provedores de nuvem geralmente criptografem os dados dos usuários, a questão crucial é quem controla as chaves de criptografia. O professor de Reuver esclarece: 'Em princípio, apenas você - como proprietário - tem acesso aos seus arquivos na nuvem. Embora o provedor do serviço de nuvem também possa ter acesso.' Ele acrescenta um ponto crítico: 'As chaves também costumam estar nas mãos da empresa, especialmente em serviços para consumidores como o Gmail. Assim, a empresa, se houver realmente um problema, ainda pode obter acesso.'

Este arranjo significa que, embora seus dados estejam protegidos contra acesso não autorizado, o provedor de serviços mantém capacidades técnicas de acesso. Isso se torna especialmente relevante quando governos solicitam acesso a dados por meio de canais legais. 'O que ele acha que poderia acontecer,' explica de Reuver, 'é que um governo diga: 'Queremos ter aquela informação daquela pessoa 'suspeita'.' Nesse caso, um pedido oficial pode ser feito ao administrador para obter acesso.'

A Aquisição da Solvinity: Uma Preocupação de Segurança Holandesa

A recente aquisição da empresa holandesa de nuvem Solvinity pela gigante tecnológica americana Kyndryl gerou preocupações significativas sobre soberania e segurança de dados. A Solvinity fornece infraestrutura crítica para serviços governamentais holandeses como DigiD e MijnOverheid, o que torna esta aquisição particularmente sensível.

O professor de Reuver enfatiza a principal preocupação: 'A grande preocupação é que, se os dados fossem para os EUA, o governo americano teria acesso às suas informações dessa forma.' Ele explica que não se trata apenas de onde os data centers estão fisicamente localizados, mas também da jurisdição do país de origem do provedor de nuvem.

O governo holandês supostamente foi pego de surpresa pela aquisição, com funcionários de Amsterdã indicando que ficaram 'desagradavelmente surpresos' pelo desenvolvimento. A preocupação vai além da privacidade de dados para possíveis riscos operacionais. 'O medo, segundo ele, está no cenário teórico de que o governo americano poderia dizer: 'Desligue o DigiD, porque não somos mais bons amigos da Holanda ou da Europa.' observa de Reuver, reconhecendo que isso é 'principalmente um risco teórico e improvável na prática.'

Alternativas Europeias e Soberania Digital

Para aqueles preocupados com a soberania de dados, alternativas europeias estão surgindo. A NextCloud, uma empresa alemã, oferece uma solução de nuvem de código aberto que está chamando atenção. 'O que é interessante nisso,' diz de Reuver sobre a NextCloud, 'é que eles fazem tudo em código aberto.' Esta transparência permite que os usuários verifiquem diretamente as práticas de segurança e privacidade.

A NextCloud lançou recentemente o Nextcloud Workspace em parceria com a provedora alemã de data centers Ionos, criando uma alternativa europeia ao Microsoft 365 e Google Workspace. O serviço é hospedado exclusivamente na Alemanha, oferecendo proteção contra exposição legal americana sob leis como a Cloud Act.

Outras fontes para encontrar alternativas de nuvem europeias são European Alternatives e PublicSpaces, que oferecem listas abrangentes de serviços focados em privacidade.

Regulação da UE: Facilitando a Mudança de Nuvem

A União Europeia está trabalhando ativamente para reduzir a dependência de provedores de nuvem por meio de novas regulamentações. O EU Data Act, que entrou em vigor em setembro de 2025, introduz novos requisitos de portabilidade para provedores de serviços em nuvem. Essas regras devem facilitar que os clientes troquem entre provedores ou migrem para sua própria infraestrutura.

O professor de Reuver explica a dinâmica atual do mercado: 'Se você olhar para a nuvem agora, todo o mercado é dominado por cerca de três players: Google, Amazon e Microsoft. Essas empresas gostam que você fique com elas. Elas criam, portanto, serviços específicos e formas de armazenamento que dificultam a migração de um serviço de nuvem para outro.'

A nova regulamentação da UE aborda isso exigindo formatos de dados padronizados e interoperabilidade entre os serviços de nuvem. Isso representa um passo importante para criar um mercado de nuvem mais competitivo e flexível na Europa.

Considerações Práticas para Usuários

Para usuários individuais preocupados com a privacidade na nuvem, várias etapas práticas podem ser tomadas. Primeiro, entenda onde seus dados estão fisicamente armazenados e sob qual jurisdição eles se encontram. Muitos serviços agora oferecem opções de armazenamento específicas por região.

Em segundo lugar, considere o uso de serviços com criptografia de ponta a ponta, onde você mesmo controla as chaves de criptografia. Embora isso exija mais conhecimento técnico, oferece maior garantia de privacidade.

Finalmente, mantenha-se informado sobre políticas de privacidade e termos de serviço. Como de Reuver nos lembra: 'É claro que outra empresa gerencia seus dados, mas isso não significa que eles possam simplesmente espiar suas informações.' No entanto, a capacidade técnica de acesso existe, tornando a transparência e a confiança fatores cruciais na escolha de provedores de nuvem.

A revolução da nuvem transformou a forma como armazenamos e acessamos dados, mas também criou novas questões sobre privacidade, segurança e soberania. Como demonstra a aquisição da Solvinity, estas não são apenas preocupações teóricas, mas questões reais com implicações significativas para indivíduos e governos.

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