Ruanda e Congo assinam histórico acordo de paz em Washington

Ruanda e Congo assinam um acordo de paz histórico em Washington, mediado pelo ex-presidente Trump. O acordo inclui parcerias económicas para minerais de terras raras, mas é recebido com ceticismo porque os combates continuam e os rebeldes do M23 estiveram ausentes.

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Acordo Histórico de Paz Assinado Durante Conflito Contínuo

Durante uma cerimônia no recentemente renomeado Donald J. Trump Institute of Peace em Washington D.C., o presidente ruandês Paul Kagame e o presidente congolês Felix Tshisekedi assinaram um acordo de paz 'histórico' em 4 de dezembro de 2025. A assinatura, hospedada pelo ex-presidente Donald Trump, visa pôr fim a décadas de conflito entre os dois países africanos, que custou centenas de milhares de vidas e deslocou milhões de pessoas.

Os Acordos de Washington para Paz e Prosperidade baseiam-se num acordo anterior de 27 de junho de 2025 e incluem compromissos para cessar hostilidades, retirar tropas e estabelecer quadros de cooperação económica. 'Depois de um longo período de se matarem, agora vão dar-se muitos abraços,' disse Trump no seu estilo característico durante a cerimónia. 'Vão dar-se as mãos e beneficiar economicamente dos EUA, como todos os outros países fazem.'

Interesses Econômicos e Recursos Minerais

Além do quadro de paz, o acordo contém componentes económicos significativos que levantam questões entre analistas. Os Estados Unidos assinaram acordos bilaterais separados com ambos os países sobre o acesso a terras raras e matérias-primas críticas. O Congo possui cerca de 70% das reservas mundiais de cobalto, juntamente com depósitos significativos de cobre, lítio e coltan - minerais essenciais para eletrónica, veículos elétricos e tecnologias de defesa.

'Há uma luta geopolítica em curso por estes minerais, e os EUA estão atrás do rival China,' observou uma fonte diplomática familiarizada com as negociações. As empresas norte-americanas estão agora posicionadas para obter direitos mineiros em ambos os países, marcando uma mudança estratégica na abordagem dos EUA para garantir cadeias de abastecimento críticas, afastando-se da dominância chinesa.

O Elefante na Sala: O M23

Apesar do ambiente festivo em Washington, os combates continuaram na província congolesa de Kivu Sul no próprio dia da assinatura. O grupo rebelde M23, apoiado pelo Ruanda, que capturou a cidade estratégica de Goma em janeiro de 2025, esteve notavelmente ausente das negociações e da cerimónia de assinatura.

De acordo com relatórios da BBC, peritos da ONU documentaram até 4.000 soldados ruandeses a combater ao lado dos rebeldes do M23, embora o Ruanda continue a negar envolvimento direto. O acordo de paz exige que o Ruanda retire o seu apoio ao M23 e que o Congo desmantele a milícia FDLR, mas nenhuma destas condições foi cumprida.

Elles van Gelder, correspondente africana da NOS, deu um contexto crucial: 'O M23 não estava presente à mesa de negociações, nem na Casa Branca durante a assinatura. A questão agora é até que ponto o Ruanda tem realmente controlo sobre o grupo rebelde e se este se retirará. Há ainda conversações separadas sobre isso no Qatar entre o M23 e a República Democrática do Congo.'

Envolvimento Regional e Internacional

O processo de paz envolveu vários atores internacionais para além dos Estados Unidos. A União Africana e o Qatar desempenharam papéis de mediação significativos ao longo de vários meses. Líderes regionais, incluindo presidentes do Togo, Angola, Burundi, Quénia, e representantes do Uganda e dos Emirados Árabes Unidos, assistiram à cerimónia de assinatura, indicando um amplo apoio regional à iniciativa.

De acordo com o Departamento de Estado dos EUA, o acordo também estabelece um Quadro de Integração Económica Regional (REIF), concebido para criar um roteiro para a paz, segurança e um crescimento económico sem precedentes na região dos Grandes Lagos.

Ceticismo e Preocupações Humanitárias

Embora a realização diplomática em Washington seja celebrada, o ceticismo está profundamente enraizado entre os cidadãos congoleses e os especialistas regionais. O conflito criou uma das maiores crises humanitárias do mundo, com mais de 6 milhões de deslocados apenas no leste do Congo.

'Os civis na zona de guerra não têm qualquer confiança na comunidade internacional e no seu governo nacional,' explicou van Gelder. 'Isso porque eles lidam com combates há décadas. O acordo também não fala sobre a violência contra civis ou o julgamento dos perpetradores. Por isso, acho que não há muita esperança de que haja uma mudança real.'

Um porta-voz do governo ruandês reconheceu os desafios pela frente e disse aos repórteres: 'Não temos uma varinha mágica, por isso será um processo.'

O Que Vem a Seguir?

O teste imediato será se o cessar-fogo se mantém e se os rebeldes do M23 começam a retirar-se das áreas ocupadas. Negociações paralelas continuam no Qatar entre o governo congolês e a liderança do M23, separadas do acordo de Washington.

O presidente Tshisekedi chamou ao acordo um 'ponto de viragem,' enquanto o presidente Kagame reconheceu que haveria 'altos e baixos' na implementação. Para Trump, o acordo representa uma nova conquista na política externa enquanto se posiciona para potenciais empreendimentos políticos futuros.

As próximas semanas mostrarão se esta cerimónia em Washington marca um verdadeiro avanço ou apenas mais um capítulo na longa e trágica história de conflito na região dos Grandes Lagos da África Central.

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