Rússia intensifica isolamento da internet bloqueando Snapchat e FaceTime

A Rússia bloqueou o Snapchat e o FaceTime, citando preocupações de segurança, enquanto especialistas veem um pretexto para controle digital. Parte de uma repressão mais ampla à internet desde a invasão da Ucrânia, empurra os usuários para o aplicativo controlado pelo estado MAX, que possui capacidades de vigilância.

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Rússia intensifica isolamento da internet com bloqueios do Snapchat e FaceTime

As autoridades russas intensificaram sua repressão a plataformas de tecnologia estrangeiras ao bloquear o acesso ao Snapchat e ao aplicativo de videoconferência da Apple, FaceTime. O órgão regulador estatal Roskomnadzor anunciou as restrições em 5 de dezembro de 2025, alegando que ambas as plataformas foram usadas para 'organizar atos terroristas e recrutar perpetradores para atividades criminosas' dentro da Rússia.

Justificativas oficiais e ceticismo de especialistas

De acordo com a declaração do Roskomnadzor via a agência de notícias estatal RIA, o Snapchat teria sido usado para 'organizar e executar atos terroristas no país e para recrutar perpetradores'. O regulador não forneceu evidências para essas acusações graves. O FaceTime da Apple também foi citado como sendo usado para 'atividades criminosas'.

Especialistas em direitos digitais imediatamente questionaram essas justificativas. 'Essas alegações sobre organização terrorista parecem um pretexto para restringir ainda mais o acesso dos russos a plataformas globais de comunicação,' disse a analista de cibersegurança Maria Ivanova, que estudou a política de internet russa por mais de dez anos. 'O padrão é claro: primeiro vem a acusação de ameaças à segurança, depois o bloqueio, depois a promoção de alternativas controladas pelo estado.'

Padrão mais amplo de controle digital

Essas restrições mais recentes continuam os esforços sistemáticos da Rússia para controlar a comunicação na internet, que se intensificaram desde a invasão da Ucrânia em 2022. Grandes plataformas como X (antigo Twitter), Facebook, Instagram e YouTube já enfrentaram bloqueios ou restrições severas. Em 2024, as autoridades também bloquearam os serviços de mensagens criptografados Signal e Viber, enquanto as chamadas via WhatsApp e Telegram foram restritas em agosto de 2025.

A plataforma de jogos Roblox foi recentemente bloqueada por supostamente disseminar 'material extremista' e promover 'propaganda LGBTQ+'. De acordo com dados do setor, o Snapchat tinha cerca de 7,6 milhões de usuários na Rússia em 2022.

A pressão por alternativas controladas pelo estado

Paralelamente a esses bloqueios, a Rússia promove agressivamente seu próprio aplicativo de mensagens controlado pelo estado, chamado MAX. Desenvolvido pela empresa de tecnologia russa VK, o MAX deve ser pré-instalado em todos os novos dispositivos móveis vendidos na Rússia desde 1º de setembro de 2025. O aplicativo combina mensagens, compartilhamento de arquivos, serviços bancários e verificação de identidade.

'O MAX representa uma escalada nos esforços de controle digital de Putin,' explica o pesquisador de política tecnológica Alexei Petrov. 'O aplicativo dá às autoridades russas acesso potencial aos dados dos usuários, incluindo localização, contatos, fotos e gravações de áudio. Isso cria capacidades de vigilância sem precedentes no nível do dispositivo.'

Preocupações com direitos humanos e reação internacional

A Human Rights Watch documentou em um relatório de julho de 2025 como as autoridades russas intensificaram significativamente a censura na internet, bloqueios e interrupções. A organização observou que cerca de metade dos russos não sabe como usar VPNs para contornar a censura, forçando muitos a usar alternativas russas promovidas pelo estado.

'Essas medidas violam as obrigações internacionais de direitos humanos em relação ao acesso à informação, liberdade de expressão e privacidade,' declarou a pesquisadora da Human Rights Watch, Elena Kuznetsova. 'O governo está usando ferramentas tecnológicas avançadas para bloquear milhares de sites, incluindo mídia independente e organizações de direitos humanos.'

Implementação técnica e impacto nos usuários

O Roskomnadzor, agência federal russa de supervisão de comunicações, desenvolveu capacidades técnicas avançadas para controle da internet. Sob as leis russas de 'internet soberana', as autoridades instalaram equipamentos de vigilância em todo o país e podem realizar exercícios de isolamento da internet e desligamentos regionais.

Os bloqueios do FaceTime e Snapchat foram implementados tecnicamente em 10 de outubro de 2025, mas só anunciados em dezembro. Esse momento sugere um planejamento estratégico para minimizar a oposição pública imediata, enquanto os usuários se acostumam gradualmente ao acesso limitado.

Implicações futuras e contexto global

A repressão russa à internet a coloca entre os países com os ambientes digitais mais restritivos do mundo. As medidas se assemelham ao Grande Firewall da China, mas têm características distintas moldadas pelo contexto político e capacidades tecnológicas da Rússia.

Empresas de tecnologia estrangeiras como Apple, Google e Mozilla estão sob pressão crescente para cumprir as exigências de censura russa ou arriscar multas e bloqueios. Como observou um jornalista de tecnologia anônimo com base em Moscou: 'Estamos testemunhando a construção de uma cortina de ferro digital. A questão não é se mais plataformas serão bloqueadas, mas quais serão as próximas.'

As restrições têm consequências práticas para russos comuns que tentam manter contato com familiares no exterior, fazer negócios internacionalmente ou acessar fontes globais de informação. À medida que o isolamento digital se aprofunda, o impacto social e econômico de longo prazo na sociedade russa ainda precisa ser totalmente compreendido.

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