A Europa enfrenta uma grave crise habitacional: os preços subiram 60,5% em 15 anos. 8,8% dos cidadãos da UE gastam mais de 40% do rendimento em habitação. A UE planeia reformas abrangentes para acessibilidade e oferta.

Crise Habitacional Europeia Atinge Níveis Críticos
O que antes era considerado uma preocupação secundária transformou-se numa das questões sociais e económicas mais urgentes da atualidade em toda a União Europeia. O dilema habitacional afeta milhões de europeus, desde jovens profissionais que lutam para encontrar rendas acessíveis até famílias incapazes de comprar a sua primeira casa.
A Realidade Dura: Preços em Ascensão e Custos Inacessíveis
Dados recentes da Eurostat pintam um quadro preocupante. Nos últimos 15 anos, os preços das casas na UE subiram 60,5%. A situação é particularmente grave na Hungria, onde os preços dispararam 277%, seguida de perto pela Estónia com um aumento de 250%. Apenas a Itália registou uma ligeira queda de 1% neste período.
O mercado de arrendamento conta uma história semelhante. As rendas subiram em 26 dos 27 Estados-membros, com um aumento médio de 28,8% em toda a União. A Estónia lidera novamente com um aumento impressionante de 218% nos custos de arrendamento, enquanto a Grécia foi a única exceção com uma queda de 9%.
'Por toda a Europa, há um sentimento tangível de injustiça, especialmente entre os nossos jovens,' declarou o Comissário Europeu da Habitação Dan Jørgensen num discurso recente. 'Quando falamos de habitação, estamos a falar do cerne da nossa democracia na Europa. É mais do que pedra e cal. É mais do que oferta e procura. Estamos realmente a falar dos direitos fundamentais e da dignidade das nossas pessoas.'
Crise de Acessibilidade Aprofunda-se
O Parlamento Europeu define a habitação como inacessível quando as famílias gastam mais de 40% do seu rendimento disponível em custos habitacionais. De acordo com os últimos números disponíveis de 2023, 8,8% das pessoas na UE ultrapassam este limiar. A situação é mais crítica na Grécia, onde 28,5% da população enfrenta sobrecarga de custos habitacionais, enquanto Chipre tem a percentagem mais baixa com 2,6%.
Em grandes centros urbanos como Berlim, a situação tornou-se particularmente grave. Um terço das famílias não consegue pagar um apartamento no mercado de arrendamento livre, forçando muitos a procurar soluções habitacionais alternativas ou a abandonar os centros urbanos.
Causas: Múltiplos Fatores Convergem
A crise habitacional resulta de uma complexa interação de fatores demográficos, económicos e regulatórios. A urbanização continua a pressionar as cidades à medida que a migração para áreas urbanas recuperou após a pandemia de COVID-19. Tanto a migração intra-UE como as chegadas de países terceiros estimulam a procura, enquanto tendências demográficas como o envelhecimento da população e agregados familiares mais pequenos aumentam ainda mais a escassez.
O aumento dos custos energéticos deslocou a procura para apartamentos mais pequenos, e o aumento das taxas de juro levou mais pessoas a optar pelo arrendamento em vez da compra. O sector do turismo também desempenha um papel, com plataformas de aluguer de curta duração como o Airbnb a deslocar residentes de destinos turísticos populares.
Desafios do Lado da Oferta
Constrangimentos de construção e barreiras regulatórias agravam o problema. Leis de zoneamento rigorosas, processos de licenciamento demorados e comportamento NIMBY ('Not In My Backyard') criam obstáculos significativos à nova construção habitacional.
'Há este paradoxo de que sou abordado quase diariamente por residentes que precisam de habitação, enquanto ao mesmo tempo sou processado por opositores à expansão urbana, mesmo quando se trata de construir alojamento para estudantes,' explicou a presidente da Câmara Municipal de Estrasburgo, Jeanne Barseghian.
O próprio sector da construção enfrenta escassez de mão de obra e custos de materiais crescentes, atrasando o processo de construção. Em França, a nova construção está em crise há quase três anos devido a estes fatores combinados com taxas de juro mais elevadas que impediram muitas famílias de prosseguir com os seus projetos de aquisição de imóveis.
Respostas Nacionais e Ação a Nível da UE
Os Estados-membros estão a implementar várias soluções. Viena destaca-se com cerca de um terço da sua população a viver em alguma forma de habitação subsidiada. Portugal aprovou recentemente uma série de medidas, incluindo cortes fiscais para residentes e impostos mais elevados para compradores de imóveis não residentes.
'É um choque, queremos agitar o mercado da construção e do arrendamento,' disse o primeiro-ministro português Luís Montenegro.
A Itália lançou um plano habitacional focado no apoio a jovens famílias, enquanto a Eslovénia aprovou legislação para construir 20.000 apartamentos de arrendamento social na próxima década com 1 mil milhão de euros em financiamento estatal.
A nível da UE, o comissário Jørgensen planeia lançar um 'Plano de Habitação Acessível para a Europa' que combina ação da UE com esforços nacionais, regionais e locais. O plano prevê duplicar o apoio da UE à habitação no âmbito da Política de Coesão, rever regras de auxílios estatais, mobilizar investimentos privados e reduzir a burocracia nos processos de planeamento e licenciamento.
A abordagem abrangente também se concentra na eficiência energética, apoio a grupos vulneráveis e partilha de melhores práticas entre Estados-membros. Mas, como reconhece o comissário Jørgensen, nenhuma solução única resolverá o complexo problema habitacional, e provavelmente levará anos até que resultados significativos se tornem visíveis.